Rubens Amador

Sobre um pouco de imodéstia

Rubens Amador
Jornalista

Dia destes, arrumando meu escritório em casa, onde centenas de papéis se acumulavam - rasguei vários -, destes que a gente vai guardando, pensando que eles ainda nos poderão ser úteis por esta ou aquela razão. E muitas vezes descobrimos papéis ou documentos que nos dizem muito respeito. Pois bem guardadas, achei duas cartas, que só me recordava intimamente de vez em quando, há 45 anos a mim dirigidas e que partiram da mão do grande professor Francisco de Paula Alves da Fonseca, um mestre na acepção da palavra.

Além de respeitado em todo o Estado pelos seus conhecimentos do idioma português, era autor de vários livros, além de ter colaborado no Diário Popular por vários anos, sendo seus artigos verdadeiros primores. Fui um grande admirador do professor Paula Alves e seu aluno por seis anos no velho então Ginásio Pelotense. Admirava-o e respeitava-o. Achava-o um cavalheiro perfeito. Até para cumprimentar as pessoas ele tinha uma elegância inata. Levava sua mão esquerda para traz, e com a direita tirava seu chapéu, com leve reverência, ao encontrar-se com pessoas de suas relações.

Além de emérito professor, também era um notável conferencista, sempre entremeando bom humor em suas palestras. Lembro-me de uma que proferiu na sede do Centro Português em que, em determinado momento, uma jovem na primeira fila interrompeu-o entusiasmada e disse: "Eu amo o português!". Sem perder a tramontana, na hora, ele disse sorrindo: "Pois case-se com um!".

Deste homem especial, deparei-me com duas cartas que me enviou, de próprio punho, e que as guardo com respeito. Quem conheceu o grande Francisco de Paula Alves da Fonseca sabe bem da sua generosidade, por isto saberão dar às cartas que dele recebi e aqui vou reproduzir, a devida intensidade.

A primeira delas, de 22/07/1978, dizia: "Prezado amigo, Sr. Rubens Amador. Já não procuro erros gramaticais nas crônicas do apreciado conterrâneo. Lendo-as, deleito-me com a natureza do assunto, ou com a sensibilidade do cronista, ou ainda com a singularidade do seu estilo. Talvez mesmo tudo isso faça com que a sua leitura me agrade. O Sr. é um dos meus ex-discípulos que só me têm dado prazer pelo carinho com que trata a língua portuguesa e o velho professor do pátrio idioma. Se aparecerem erros gramaticais nas suas crônicas jornalísticas, ponha-os na conta do modesto revisor das suas redações nas aulas do nosso inolvidável educandário, hoje o Colégio Municipal Pelotense. Muito obrigado pelo respeito que me tributa, fazendo-me constante admirador das suas qualidades genuinamente humanas, abraço-o cordialmente. Francisco de Paula Alves da Fonseca".


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